segunda-feira, 28 de março de 2011

“Insucessiva Criação”


 Essa noite é mais escura que todas as outras penso eu. Essa noite é menos estrelada que todas as outras digo eu. Nenhuma lâmpada paira sobre minha cabeça, nada esclarece a escuridão mental que vivo nesse momento. A perplexidade me consome lentamente, lentamente. Apenas sentado em frente essa maquina de escrever com um papel nela escrito apenas um titulo, com o caderno velho do lado e minha caneta preta quase acabando a tinta, caderno rabiscado, incompleto, incongruente, “no sense”. A cada segundo que passa pior torna meu tormento, apenas parado e nem tomar a xícara de café que seguro eu tento, mas pudera, já tomei tantas e tantas essa noite, mas não consigo soltara, o modo como balançara fazendo pequenos círculos em volta do nada me relaxa, esse efeito me torna plausível, não deixa me tomar-me de conta o tormento. Mesmo nenhum tique, nem uma técnica relaxante me faz queimar os neurônios, me deixar eufórico, que me faça dizer “Eureca” como em tantas vezes.
 O frio da noite começa a tomar conta de mim, o café não me aquece mais, mesmo eu tomando bastante daquela água quente, preta e insonolenta. A luz do abajur parece estar se apagando cada vez mais e com nenhuma chance de acender a ponto de me cegar. Meu agasalho está velho, hoje em dia ele não é tão quente como era anos atrás, mas é meu único e favorito. Eu já estou velho. Me pergunto porque gosto tanto de criar em pouca luz, mesmo eu sabendo a resposta, ou melhor, as respostas.
 Olho pela janela do quarto, a lua está um perfeito redondo, um bola de cristal gigante e brilhante com um santo montado em um cavalo, talvez, desenhado no meio. O simples barulho do silêncio lá fora a planar parece me chamar. Deixo a xícara que minha mãe me dera de presente de formatura, que a mesma teria ganhado de sua mãe, a mesma que segurara por horas em cima da mesinha do abajur, como sempre. Era linda aquela mesinha de madeira desenhada e feita por meu amigo Cristian que sempre e carinhosamente me chamava do “Domzinho”.
 Levanto e vou indo em pequeno passos em direção a varanda, sempre em contagem das vezes que toco no chão com cada pé. Começo a observar tudo, o luar, as estrelas que não tem no céu, a noite infinitamente escura, o grililar dos grilos a tocar que a pouco não ouvistes, e as folhas cantando sua sinfonia folheal. Penso em como ficar na solidez da solidão nesse casarão, ficar na solidez da falta de inspiração, pois sobre tudo que me rodeia eu já escrevi. Até mesmo sobre Izza e o monstrinho invisível que atormentava o pequeno Doug, que Deus o tenha e que ele esteja em paz no céu canino.
 Será se amanha receberei uma carta de Izza ?, Penso eu como em todos os dias. Nunca havia ficado tanto tempo longe de minha “Irmãzita”. Rezo que para que as coisas para ela dêem mais certo muito mais que para mim como diplomata. Mas não vejo com bons olhos essas viagens longas, devem ser porque elas me doem, já que ela é a única pessoa que tenho. Uma irmã mais nova que cuida do seu irmão quase idoso, que não tem mais uma esposa e nem pode ter filhos.
 Meu Destino parece ser mesmo a solidão, e minha única fonte de vida e companhia é a criação, e nem isso eu tenho mais. Decido sair da varanda, tiro a mão direita do apoio e dou um passo pra traz com a perna esquerda, o resto é naturalmente. Ando pelo quarto, de lado pro outro, minha face reproduz a minha fonte de idéia, nada.
Caminhando pelo quarto vou abrindo as portas e gavetas, uma a uma, cada a cada do guarda roupa, cômoda, ou qualquer coisa que pudesse se abrir por ali. Não me deparo com nada, nenhuma inspiração, tudo vago, tudo vazio. Eu sequei?, Estou vazio ?, Minha mente está um vácuo onde não implanto som, imagem, poesia, nada?, Grito eu, sussurrando.
Aumenta a profundeza de meu bloqueio, meu cabelo arrepia de tanto me debater, meus dedos estão sangrando de tanto eu morder e roer minhas unhas, minha cama está bagunçada e quase quebrada de tanto eu pular e tentar libertar-me. Lembro me de minha primeira obra “Saint Amélie” e de quanto me felicitou o amor pela vida que consegui reproduzir, através daquela virgem inocente que só queria viver do amor e ajudando os outros, sem ter prisões pela Terra onde pisara. Lembro de “Juizo cego” e de que a cegueira do meu personagem era apenas metáfora para o modo como todos nós enfrentamos obstáculos na vida para amadurecer, evoluir e minha critica a sociedade fútil que vive a olhar tudo ao nosso redor, a natureza, as pessoas e fazer um juízo precipitado de tudo, vendo apenas a faceta exterior, apenas a primeira vista e não buscando a segunda, não buscando a profundeza no coração de tudo, sem procurar a verdadeira razão por trás de tudo, a real verdade por trás de cada mentira.
Estou no chão completamente, acolhido, desiludido, em busca de uma ilusão real. Começo a lacrimejar perdidamente, gritar, rastejar, a me debater e bater o chão, as lagrimas descem meu rosto de fracasso e desgosto, sinto minha limitação, humilhação. Minhas lagrimas vão tocando o chão como se por lavar os passos que já dei e apagar-los completamente do meu caminho traçado. Eu grito “Não”. E Clamo a Deus, “Por favor Pai, dei me criação”.
Amanheces-te o dia. Abro os olhos e vejo que dormi no chão, com roupas rasgadas, sinto meu corpo dolorido, garganta doendo e minha voz rouca, e do meu lado um papel. Pego o devagar e despretensiosamente, está escrito o titulo “Insucessiva criação”. Está completo, e escrito em uma... e sobre... uma noite recente, estranha, controversa e...  Mal dormida.

By Andrews Fernandes

11 comentários:

  1. Adoreeei xuxu :*

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  2. CamilaJap: Um bom textoo ... gosteei ;D

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  3. Andrews, o lirismo é a forte marca em seu estilo. As descrições foram construídas de maneira cuidadosa e bem rica.
    Sabe, quero confessar uma coisa engraçada: Eu sempre quis atravessar a noite tomando cafés e tentando escrever. Nunca me dei a este desfrute. [sorrio]
    Parabéns pelo texto, Andrews! O que você está lendo atualmente?

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  4. Andrews, eu nunca passei a noite em claro com café e escrevendo. Questões de trabalho, família; meus filhos sempre levantam cedo. Acredita nisso? [sorrio]
    Cara, o meu Twitter é @Jefhcardoso74, entro quase todos os dias.
    Abraço!

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  5. Cara, estou rindo aqui do meu comentário. Sim, meus filhos levantam cedo. Mas eu também. [sorrio]. É que eles levantam cedo inclusive quando tenho folga, aí ninguém mais dorme. É isso. Cara, não repare em meu Twitter, ele é bem diferente do blog, pois lá eu mais experimento do que trabalho. Não uso a mesma seriedade do blog. Abraço! Valeu!

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  6. Insucessiva Criação - é o que você uso de mais inspirador pareçe coisa de livro mesmo , eu gostei muito, chama aténção ,me fez querer lê pra saber e enteder o final do conto *-*

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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